Pedro Paiva, especializado em comportamento de cães no uso da força, na deteção de odores e em missões de busca e salvamento da Guarda Nacional Republicana (GNR), foi a pessoa responsável pelo projeto Pet B Havior que, posteriormente, originou a Pet B Home.
Tudo começou com o lançamento da Pet B Havior, uma associação sem fins lucrativos, ideia que surgiu depois de perder o cão que o acompanhou durante 10 anos na GNR, explicando que “é uma forma de o manter vivo”. Tem “como única finalidade promover o bem-estar dos animais de estimação, transmitindo conhecimento aos seus tutores, de forma a que a relação de amizade entre ambos seja equilibrada, duradoura, saudável e feliz cujo principal objetivo é a formação a tutores de animais e cães”.
No seu percurso profissional enquanto especialista em formação animal, tem sentido cada vez mais procura por parte dos donos dos animais de companhia “para ficar com os cães porque não estão confortáveis, muitos deles, em colocá-los em regime de hotel, uma vez que se preocupam com o bem-estar do seu animal de estimação – não apenas com a parte física, mas também com a emocional”. Além disso, muitos dos tutores afirmaram a Pedro Paiva que não podem deixar os seus animais em de alojamento tradicional devido às restrições financeiras.
Por esse motivo, Pedro sentiu necessidade de “criar algo novo e que fosse ao encontro desta necessidade, não apenas pela posição social que ocupa o cão [ou animal de estimação] hoje em dia, mas também pelas restrições financeiras que existem”: a Pet B Home.
A Pet B Home foi fundada em 2019, porém é um projeto que tem sido desenvolvido através de vários inputs que foi Pedro Paiva foi recebendo desde 2017.
“Esses inputs têm vindo a surgir à medida que o projeto vai crescendo, à medida que eu vou construindo passo a passo e vou sentindo as falhas existentes e de que forma é que posso preencher essas lacunas”, declara.
A plataforma Pet B Home é “uma plataforma digital, que está construída com algoritmos de avaliação temperamental, que são fundamentais quando falamos de um animal”, de modo a conseguirmos “perceber em termos de temperamento de que animal se trata”, sendo possível também – através de uma ferramenta de geolocalização – conseguir localizar as famílias, bem como as famílias de acolhimento, colmatando a falta de alojamento animal, constata.
Neste site é possível “os pet lovers fazerem permutas e ‘trocarem’ os animais de forma gratuita, permitindo assim o alojamento dos mesmos nos períodos sazonais, havendo um espírito de entreajuda para um bem-animal”, explica Sandra Alves, designer do plataforma e parte integrante da equipa que o lançou. Esta permuta comunitária contribui para o combate do abandono animal, outra grande missão desta iniciativa.
Atualmente, as ausências dos tutores de animais de estimação não acontecem somente durante o período do Verão, existindo umas mini-férias quando há feriados e pontes durante uma semana, escapadinhas ao fim-de-semana “e, infelizmente, muitas vezes é impossível levarmos o nosso amigo de quatro patas connosco”, devido a “muitas condicionantes de logística no que toca a levar um animal connosco”, desde as quarentenas até à dificuldade de encontrar, no destino, locais pet-friendly.
No entanto, “a verdade é que hoje podemos deixar o nosso amigo de quatro patas entregue a uma família de acolhimento temporário durante o nosso período de ausência”, sendo dada prioridade ao “conforto e a facilidade de as permutas acontecerem”, explica Sandra Alves.
Como funciona a plataforma?
“A Pet B Home vem agilizar este processo. Quando nos registamos na plataforma, inicialmente vamos querer saber quem são os nossos amigos de 4 patas. O primeiro foco da Pet B Home são os animais, seguidamente são os tutores dos animais [os donos].”
A plataforma, dotada de inteligência artificial, tem um algoritmo que faz a leitura das respostas que deve preencher aquando da sua inscrição.
Dessa forma, será criado um perfil destes animais com base “na parte comportamental, categorizando o animal, atribuindo uma pata verde [para os animais muito sociáveis, dóceis, meigos e que têm uma boa relação tanto com humanos, como com os da mesma espécie], amarela [atribuído a cães também sociáveis, mas que têm algumas limitações sociais – podem até relacionar-se bem com humanos, mas têm dificuldade na interação com os da mesma raça] ou vermelha [que compreendem as sete raças consideradas perigosas, estipuladas pela legislação em vigor, ou os animais que já tiveram comportamentos de risco, como episódios de agressão anteriores – morder uma pessoa, por exemplo]”.
De seguida, as famílias podem registar-se sem haver as obrigatoriedade de serem também eles uma família de acolhimento (que recebe os animais em sua casa durante a ausência dos donos). Aliás, uma das primeiras perguntas quando se registam no site é se estão disponíveis para receber outro animal da mesma espécie no conforto do seu lar.
“Para os que não estão disponíveis para receber animais em casa, a plataforma também tem espaço para essas famílias. Saem de um registo comunitário e passam para famílias profissionais, que são famílias que passam a receber um fee [valor] da plataforma pelo alojamento animal”, esclarece.
Ou seja, para ser mais fácil compreender, Sandra deixa um exemplo:
“Eu, enquanto dona do Félix, um persa azul, uma das perguntas que a plataforma me faz é se estou disponível para receber outro animal da mesma raça em minha casa. Se responder sim, entro numa permuta comunitária, na qual posso deixar o meu gato na casa de alguém e outras pessoas poderão deixar os seus animais na minha, sendo assim o alojamento é completamente gratuito.
Se disser que não, a partir daí a plataforma vai cobrar um fee simbólico mensal para a família profissional que vai receber o animal na sua casa. No final da estadia, as pessoas que não estão na permuta vão poder resgatar o valor que fica em saldo na plataforma, vão poder utilizá-lo no seguro de responsabilidade civil, sempre associado a um animal quando ele transita de habitação, utilizá-lo nos parceiros da Pet B Home ou ainda escolher uma das associações devidamente identificadas para fazer a doação do dinheiro, com o objetivo, mais uma vez, de promover o espírito comunitário.”
Contudo, quando uma família tem uma má experiência com um cão ou um gato e querem deixar de ser uma família de acolhimento, pode alterar o seu estatuto dentro da plataforma a qualquer momento. Além disso, pode reportar a situação e, precisamente para evitar este tipo de constrangimento é que “a atribuição das patas é muito importante, uma vez que, através da inteligência artificial e das respostas a algumas perguntas, é possível perceber o padrão comportamental do cão”, explica Sandra Alves,.
Tendo em conta que hoje “os pet lovers já são mais de 50% dos lares em Portugal, constituindo uma grande família. Estamos a falar de cerca de 6 milhões e 700 mil animais registados nas nossas juntas de freguesia”, faz bastante sentido que um produto deste género seja lançado, conclui Sandra Alves.
Veja os testemunhos reais, numa
entrevista conduzida por Maya e Nuno Eiró, no programa "Manhã Cm", da CMTv.